quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Infância

O jantar constituía-se de cuscuz, ovos, café, leite e água gelada - típico jantar teresinense. Pela porta dos fundos, matizando a casa de macieza e saudade, vinha o vento, envolto de orvalho e de perfume: as carambolas sumarentas e maduras; e em breve iria chover.
Então, logo após um súbito rimbombar de trovões, amancebado de um relâmpago diabólico, ela não se conteve:
--- Mãe, é melhor pegar logo as velas, vai já faltar luz! disse, temerosa de que o escuro aterrador que afogava o quintal engolisse a casa.
--- Luz, não, energia! exclamou zombeteiramente o pai, provocando risos da mãe e do irmão.
Destarte, como num violento lampejo, criou forças, e deu um salto da cadeira, amuada e em revérberos de vingança; estava indo procurar as velas, tencionava escondê-las, quando faltasse luz - mas, no meio do caminho, a luz morreu aquilinamente, sem avisar, tendo aí que retornar pra sua mãe, resfolegando, e prometendo a Deus que nunca mais pensaria em maldade.
Chuva.
Diego Melo

3 comentários:

Giu Missel disse...

ah... é linda essa prosa.

Alexandre Spinelli Ferreira disse...

rs... que singela, que linda... que bela forma de narrativa tens...
Parabéns!

André Ulle disse...

Lindíssima

pura

perfeita!