segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

A Casa da noite

a negra voz que agudiza em tons de emoção barata
carrega o bar de passados em vozes que já se foram
e o homem só que destila suor e lágrimas fáceis
comporta-se frente a ela como se ELLA o fosse.

e o vigor da voz que canta na garganta nem tão nobre
traz lembranças quase tristes de viagens nunca feitas
a lugares onde vozes derramavam timbres negros
em melismas e floreios de dor e profundidade

uma hora! já tão tarde! paga a conta e vai embora
pro quarto-sala alugado com pôster de chê guevara
que o olha com desconfiança e certa cumplicidade
torcendo pra que não perca o viço nem a ternura.

e já diante da tela de seu museu de amizades
procura videos antigos de divas em árias tristes
talvez pra banir o peso das velhas fossas de sempre
e evitar que seu mundo caia em vozes conhecidas.

e pra driblar certa dose de inútil melancolia
que ameaçava a alegria a qual nascera fadado
dedilha sons de caymmi e sambas cheios de morro
e promete decorá-los pra cantar à namorada.

Cado Selbach

5 comentários:

Alexandre Spinelli Ferreira disse...

Cado, meu velho... quanta música, quanto sentimento, quanta solidão...
Que facilidade, que domínio tens...
Grande abraço!

Ingrid Regina disse...

Eu li Cado Selbach, mas vi Navegador.
E quanto navega...
è o meu preferido do Cado, ele é fodido na sua poesia.

Tati Tosta disse...

Nasceu Poeta.
Fez-se presente nosso.

Envolvente demais o tom da escrita.

Abraços Cado.

Giu Missel disse...

é, o Cado é navegador dos nossos mares.

Anônimo disse...

Rabi, Rabi!!