quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Elegia do abandono

Ante teus olhos minha alma impura, mas transparente
E a atravessaste como o fio de uma espada
E a olhaste como se ali houvesse nada
Sequer viste qualquer desvairada, mendiga ou indigente

Feriste-me outra vez, e nem te amaldiçôo
Mas por teres me abandonado novamente
Por teres tua alma afastado de mim de repente
Por isso, Maria, também não te perdôo

E por não teres me confortado quando em teus braços
Por não teres me acariciado se ao alcance dos dedos
Por não teres me ofertado um de teus sorrisos escassos
Por não teres ofertado teus ouvidos a meus segredos

Por não teres dado refúgio à inocência da pouca idade
Por não teres te perturbado com a silenciosa conduta
Por não teres percebido minha miséria absoluta
E por teres confundido tristeza com maldade

Ah, por não teres me doado um pensamento neutro
Nem, por um instante, dedicado um resquício de doçura
Minha alma tem num calabouço aprisionada a ternura
E também o teu perdão dorme profundamente lá dentro

Iriene Borges

5 comentários:

Giu Missel disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Impossível que ele não acorde depois desse poema!

Giu Missel disse...

Estes versos são tão fortes.
ecoam aqui dentro.

Alexandre Spinelli Ferreira disse...

UAU!! Emocionante Iriene... lindo, lindo, lindo...
Parabéns...

CADO - MAPA DOS MEUS DIAS disse...

este poema é... sem qualquer exagero... uma das coisas mais lindas que li nos últimos tempos. uma aula.

destaco:

Minha alma tem num calabouço aprisionada a ternura

só um pouquinho... isso tá lindo demais!!!